O SANTUÁRIO DA IMAGEM:
NISE DA SILVEIRA E A REVOLUÇÃO DO AFETO
Resumo
Este artigo propõe que a maior revolução do século XX não foi política, científica ou econômica — mas simbólica e afetiva — e teve em Nise da Silveira sua principal artífice. Ao romper com os métodos violentos da psiquiatria tradicional, Nise instaurou uma nova ética do cuidado: a revolução do afeto. Sua prática clínica ressignificou a loucura não como desvio ou patologia, mas como expressão legítima da alma em sofrimento, capaz de se reorganizar por meio da imagem simbólica. Inspirada pela Psicologia Profunda de Carl Gustav Jung, ela compreendeu a arte como via primeira de linguagem do inconsciente, reconhecendo nas produções espontâneas dos pacientes manifestações arquetípicas e núcleos de sentido profundo. O Museu de Imagens do Inconsciente tornou-se, assim, um santuário da subjetividade e um testemunho vivo dessa revolução silenciosa. A escuta da imagem, a valorização do vínculo e a confiança na potência simbólica da psique transformaram radicalmente os modos de tratar, pensar e acolher o sofrimento psíquico. Sua atuação devolveu à loucura sua dignidade e à clínica sua dimensão poética e humanizadora. Sua obra permanece como o mais potente legado de uma cura que nasce do afeto, da arte e da escuta.