Educação Visual:
notas sobre Écfrase em Manual de Pintura e Caligrafia
Abstract
Neste trabalho, exploram-se alguns exemplos textualização ecfrástica que surgem em Manual de Pintura e Caligrafia, que dizem respeito à realização verbal de imagens com e sem referente extraliterário. Definiremos, a partir dessa exploração, a construção do enunciador saramaguiano — o autor-narrador definido por Miguel Real — como aquela entidade em que se manifesta através de uma posição discursiva e poética que depende, em igual medida, da arquitetura de visões pessoais como dos efeitos que exercem que sobre o enunciador os objetos estéticos que constituem o tecido do imaginário cultural em que o este se move e transforma. Esperamos, com isso, demonstrar que o agenciamento artístico depende do poder transformador do olhar e de uma concreta tomada de posição ideológico-existencial, assumida em consequência de um estado de alerta que se torna possível mediante a experiência estética. O significado desses contactos será sintetizado nos comentários meta-diegéticos que têm como antecedente os episódios que o protagonista caracteriza como autobiográficos. Nestes, destacar-se-á a preponderância da écfrase, o bordão narrativo que alegoriza o espaço de in-betweenness ocupado pelo peculiar narrador autorreflexivo criado por Saramago.