Ruth Klüger:
uma autobiografia contra a indolência do esquecimento
Resumo
A obra de memórias sobre a infância na Viena nazista e sobre a vivência concentracionária, de Ruth Klüger, merece
destaque por vários aspectos: 1) por serem memórias tardias - ou seja, a autora teve cerca de meio século para elaborar
essas memórias e conhecer os escritos de outros sobreviventes, como Primo Levi, Robert Antelme, Jorge Semprun; 2)
por serem, ao contrário da imensa maioria dos outros testemunhos, memórias de uma mulher e, ainda mais do que isso,
de uma criança, de uma menina. Estes aspectos diferenciais permitem à autora refletir sobre temas polêmicos relacionados à Shoá, como a condição do sobrevivente, o enfrentamento dos traumas e a retomada de uma vida “normal”, a possibilidade de narrar e a recusa de ouvir, e a questão da estética, ou seja, a representabilidade da opressão levada ao seu limite. Ruth Klüger, que tinha sete anos em 1938, quando a Áustria optou pelo nazismo, dos dez aos doze anos esteve internada em Terezin; em 1944, foi transferida para Auschwitz-Birkenau, enfrentando a morte de perto. Quase por milagre, escapou de uma “seleção”. Arguta observadora, foi capaz de perceber e registrar com rara sensibilidade o funcionamento dos mecanismos de exclusão, exacerbados pelo anti-semitismo, pela guerra e pelo regime concentracionário - dos arianos contra os judeus, dos militares contra os civis, dos homens contra as mulheres, dos adultos contra as crianças. Mecanismos de exclusão que, na opinião da autora, são reproduzidos mesmo dentro das comunidades judaicas, na forma de silenciamento dos sobreviventes, de esterilização dos testemunhos.
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